Hemoce implanta técnica que oferece diagnóstico para identificar doenças de coagulação do sangue

28 de outubro de 2021 - 16:36 # # # # # #

Assessoria de Comunicação do Hemoce
Texto: Emmanuel Denizard
Fotos:Natássya Cybelly

O citômetro é o equipamento responsável em fazer a leitura das amostras. Atualmente, o laboratório de citometria de fluxo do Hemoce conta com uma equipe formada por médicos, biomédicos, bioquímicos e técnicos em laboratórios

O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), equipamento vinculado à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), passou a realizar imunofenotipagem por citometria de fluxo para distúrbios funcionais de plaquetas. A técnica é capaz de diagnosticar patologias de coagulação do sangue e identificar o diagnóstico de pessoas com sangramentos que estão em investigação para casos suspeitos de doenças plaquetárias, proporcionando um tratamento mais eficiente e melhorando a qualidade de vida dos pacientes do Hemoce.

Foi por meio da citometria de fluxo que o Hemoce fechou o primeiro diagnóstico de uma paciente com síndrome de Bernard-Soulier. Angela Feitosa, 36, é acompanhada pelo hemocentro e pelo Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) desde 2005. Ela apresentava sangramentos frequentes, mas não tinha um diagnóstico fechado sobre qual doença a acometeu. Diante das patologias mais comuns de coagulação, as possibilidades eram descartadas. “Aos três anos apareceram os primeiros sangramentos; fui levada para o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e fui acompanhada até os 20 anos. Depois, fui encaminhada para o Hemoce, onde até hoje sou acompanhada e realizo o meu tratamento”, lembra.

No início dos primeiros sintomas, Feitosa afirma que os médicos suspeitavam de Púrpura Trombocitopênica Idiopática (PTI) e que só agora veio o diagnóstico correto. “Antes de iniciar o tratamento, sangrava muito pelo nariz e pelos dentes; depois que passei a ser acompanhada e com uso das medicações, [o sangramento] foi diminuindo. Quando aumenta, realizo transfusão de plaquetas para cessar. A doutora Rosângela, que me atende desde os 20 anos, contou que o Hemoce estava com essa nova técnica e disse que eu seria a primeira a fazer o exame. Fiz a coleta e agora veio o diagnóstico para síndrome de Bernard-Soulier”, diz.

Rosângela Albuquerque, hematologista do Hemoce e do HUWC, acompanha a paciente desde o início do seu tratamento. “Ângela chegou ao nosso serviço com o diagnóstico de PTI e começamos a questionar pelas características do seu hemograma. Conforme a realização de novos exames, as suspeitas só aumentavam, mas não tínhamos como confirmar que ela tinha outra patologia. A ideia era que ela tivesse algum problema funcional de plaquetas e, especificamente, a síndrome de Bernard-Soulier, por causa das características morfológicas das plaquetas. Com a citometria de fluxo para estudo funcional de plaquetas realizado pelo Hemoce, o grande dia chegou, que condiz realmente com a sua evolução clínica e com outros estudos laboratoriais que se enquadram na síndrome confirmada. O tratamento adequado para doença em caso de sangramento ou de forma preventiva, quando vai fazer alguma cirurgia, procedimento invasivo ou extração dentária é a transfusão de plaquetas”.

Ângela apresentava suspeita de distúrbio funcional hereditário de plaquetas, mas não era possível evoluir o seu diagnóstico porque não tinha metodologia disponível no Estado para avaliar. Apesar disso, ela sempre confiou nos profissionais do Hemoce. “Eu pensava assim: ‘já que não é PTI, então o que é?’. Mas sempre tive confiança nos profissionais que me atendem e isso me deixava sempre mais tranquila, por causa das orientações e da assistência que recebia da doutora e de toda equipe”, ressalta.

Antes, quem precisava realizar o exame no Ceará tinha de se deslocar até outro estado para fazer a coleta, não havendo a possibilidade de enviar apenas a amostra – por causa do tempo necessário para seu processamento. “As plaquetas não têm estabilidade, por isso, não é possível coletar a amostra aqui e enviar para fora. A avaliação tem que ser feita no local, porque temos 12 horas desde a coleta até a realização do exame. A utilização da citometria de fluxo, além de melhorar a assistência aos pacientes, permite direcionar para o tratamento correto”, explica Mabel Fernandes, hematologista do Hemoce.

As plaquetas são componentes do sangue que têm papel fundamental no controle de sangramentos. Para analisar os seus distúrbios funcionais, existem várias formas, entre elas, a citometria de fluxo e a agregação plaquetária. A primeira consegue identificar um grupo de doenças, como a síndrome de Bernard-Soulier e a Trombastenia de Glanzmann. A outra consegue verificar um número maior de patologias. Em breve, o Hemoce também contará com a técnica de agregação.

Citometria de fluxo

O Hemoce reestruturou há três anos o setor da citometria de fluxo. Recentemente, o equipamento estadual passou a utilizar a técnica na imunofenotipagem na avaliação dos distúrbios funcionais de plaquetas. A demanda surgiu no ambulatório de coagulopatias e hemoglobinopatias em decorrência da necessidade de avaliar as expressões dos antígenos plaquetários e tentar identificar, por meio do exame, o resultado de cerca de 40 pacientes que hoje aguardam a definição do real diagnóstico.

Fernandes conta como ocorre essa identificação. “As plaquetas naturalmente expressam alguns marcadores, como se fosse a identidade da plaqueta. A citometria de fluxo ajuda no diagnóstico dizendo o que está marcando naquela plaqueta e a sua intensidade. Quando a plaqueta apresenta alguma deficiência ou ausência desses marcadores, são indicativos dessas síndromes. De acordo com cada marcador, é possível identificar na classificação da citometria de fluxo se é síndrome de Bernard-Soulier ou Trombastenia de Glanzmann”, detalha a hematologista.

Após a inserção da amostra no equipamento, o citômetro fornece um gráfico, onde é possível verificar a redução na expressão do marcador, identificando qual doença o paciente possui

Para chegar neste resultado final, existe um longo processo de estudo e avaliação que inicia com a suspeição clínica (indicação do médico para algumas dessas doenças), passando pela citomorfologia (análise microscópica de células) e a citometria de fluxo (que verifica os antígenos).

Agora, com o diagnóstico confirmado, a paciente, em caso de sangramento, vai ter a possibilidade de fazer o tratamento correto da doença. “Nós temos o ambulatório de referência do Estado no acompanhamento das coagulopatias hereditárias raras, e os distúrbios funcionais de plaquetas também entram nesse grupo. Porém, existia uma dificuldade em definir e concluir o diagnóstico desses pacientes, já que não tínhamos acesso aos exames necessários para fazer essa avaliação”, afirma a diretora de Hematologia do Hemoce, Luany Mesquita.

Alguns pacientes que seguiam sem diagnóstico confirmado, segundo ela, poderão chegar a uma conclusão pela citometria de fluxo. “Eles vão poder, finalmente, ter uma definição diagnóstica clara para serem conduzidos de forma mais adequada, tendo uma melhor qualidade de vida. Atualmente, o Hemoce é o único equipamento do Ceará a contar com o serviço”, destaca.

Atendimento

O Hemoce é referência nacional no atendimento de pessoas com coagulopatias e hemoglobinopatias. Em todo o Estado, mais de 1.500 pessoas são acompanhadas. O Hemoce Fortaleza coordena todo este trabalho e também supervisiona o tratamento nas unidades do interior cearense, onde a assistência é realizada por meio dos hemocentros regionais de Sobral, Quixadá, Crato e Iguatu.

O serviço de citometria de fluxo está disponível para qualquer paciente do SUS, sendo necessário apenas ser encaminhado de uma unidade de saúde para o Ambulatório de Coagulopatias e Hemoglobinopatias do Hemoce. No equipamento, o caso será avaliado pelo corpo clínico especializado da instituição. Havendo indicação, o paciente realizará a coleta para o exame.