Ceará realiza 1º transplante de medula óssea com doação de células de mãe para filho

18 de outubro de 2016 - 20:29

O Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), em parceria com o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), realizou nesta terça-feira, 18, o primeiro transplante haploidêntico do Estado do Ceará. Neste tipo de procedimento, o doador não é inteiramente compatível com o receptor. O paciente, um jovem de 22 anos, natural de Quixadá, é portador de leucemia mieloide aguda e já não respondia ao tratamento convencional, com medicamentos. Ele recebeu as células da mãe. A parceria HUWC/Hemoce já contabiliza 280 transplantes de medula óssea, sendo 242 autólogos e 38 alogênicos.

O hematologista Fernando Barroso, coordenador do Banco de Sangue e Cordão Umbilical e Placentário do Hemoce e chefe da Unidade de Onco-Hematologia do HUWC, explica que, no transplante alogênico, há a figura do doador, que pode ser aparentado (irmão) ou não aparentado (proveniente de bancos de doadores, como o Redome – Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). No caso do transplante alogênico inédito realizado hoje, que foi do tipo idêntico (quando um dos genitores é o doador), foi a mãe que doou as células.

“O paciente é submetido a altas doses de quimioterapia e, em alguns casos, radioterapia também. Um dia antes de o paciente receber as células-tronco, a coleta é feita no doador. Após a infusão das células doadas, o paciente permanece internado até que a nova medula comece a funcionar normalmente”, explica o hematologista. A Unidade de Onco-Hematologia do HUWC é a única do Estado a realizar transplante de medula óssea pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a primeira a fazer o do tipo alogênico.

Dr. Fernando acrescenta que o que ocorreu hoje no HUWC é um grande feito, tendo em vista que abre um campo de novas possiblidades para pacientes que precisam do transplante de medula óssea. “A realização do transplante haploidêntico pode ajudar a resolver a questão de pacientes que não têm doador compatível e não podem esperar até encontrar um doador com compatibilidade. A possibilidade de contar com um parente que seja 50% compatível revolucionou a área dos transplantes, porque hoje praticamente todo mundo tem um doador, pode ser o pai, a mãe, um irmão e até um primo”, diz o médico.

Transplantes haploidênticos já foram realizados em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro. No Ceará, foi a primeira vez. Segundo Dr. Fernando, a taxa de sucesso para esse tipo de transplante de medula óssea é de 60%.

Outros tipos

Além desse, existe o transplante do tipo autólogo, que consiste no autotransplante. Ou seja, o próprio paciente é a fonte de células-tronco hematopoéticas. Nesse procedimento, o paciente faz uso de uma medicação que estimula a produção de células-tronco e realiza a coleta dessas células presentes no sangue por meio de um processo automatizado chamado aférese. Essas células, então, são armazenadas por congelamento. Em um segundo momento, o paciente é internado e submetido a altas doses de quimioterapia e posterior infusão das células-tronco que estavam armazenadas.

O transplante alogênico não aparentado, por sua vez, ocorre quando não se encontra um doador familiar. A busca por um doador começa com a inscrição do paciente no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme), que é gerido pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). O sistema faz a busca de um doador compatível. Encontrando-se esse doador, o centro responsável pelo paciente é comunicado e o doador é convocado pelo hemocentro onde está inscrito. Há uma programação conjunta entre a internação e a quimioterapia do paciente e a coleta das células-tronco do doador onde quer que ele esteja.

Um pouco de história

A Unidade de Onco-Hematologia do HUWC iniciou, em agosto de 2008, junto ao Hemoce, o transplante do tipo autólogo. Em 2014, fez o primeiro transplante alogênico aparentado com sangue periférico como fonte de células-tronco. No ano passado, ocorreu o primeiro transplante alogênico aparentado com a coleta das células-tronco do doador feita direto da medula óssea, por múltiplas punções ósseas no osso da bacia em centro cirúrgico. Em abril de 2016, o primeiro transplante alogênico não aparentado. Em todos os transplantes, houve participação efetiva do Hemoce. Além destes, o Hemoce também realiza coletas de medula óssea para a realização de transplantes em outras intituições. Até o momento, foram realizadas 22 coletas alogênicas não-aparentadas, sendo 14 para transplantes realizados no Brasil e oito para o exterior.

“Temos uma equipe multidisciplinar. Hoje, são médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionista, assistente social, psicólogo e dentista. Todos envolvidos nas mais diversas fases do transplante de medula óssea a fim de melhorar a assistência aos nossos pacientes”, resume, Dr. Fernando Barroso, a participação da equipe no trabalho realizado. De uma forma geral, a taxa de sucesso nos transplantes de medula óssea alcança a impressionante marca de 98% no Hospital Universitário.

Para ser doador

Para se cadastrar como doador de medula óssea é preciso ter entre 18 e 55 anos, não ter tido câncer e apresentar documento de identidade e comprovante de endereço. O cadastro será concluído com a assinatura de um Termo de Consentimento e a coleta de uma amostra de sangue (10 ml). É importante sempre deixar seu cadastro atualizado para que o Hemoce tenha como localizar o doador. Para isso basta entrar em contato com o Núcleo de Medula Óssea, enviando as alterações de dados para o e-mail nucleo.medula@hemoce.ce.gov.br


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Com informações do HUWC.