Teste do Pezinho completa 10 anos

7 de julho de 2011 - 03:00

Especialistas comemoram o resultado da audiência pública promovida no Senado nesta segunda-feira para discutir melhorias no Teste do Pezinho, que completa 10 anos. Durante a reunião, solicitada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o Ministério da Saúde anunciou que mais duas doenças poderão ser diagnosticadas por meio desse exame: a deficiência de biotinidase e a hiperplasia adrenal congênita.

Atualmente, o exame feito pelo SUS busca detectar nos recém-nascidos a fenilcetonúria e o hipotireoidismo congênito. E, nos estados em que o Programa Nacional de Triagem Neonatal se encontra em estágio mais avançado, o teste também visa constatar se os bebês têm a doença falciforme ou a fibrose cística. Essas quatro doenças ainda não têm cura e o seu diagnóstico precoce permite que o tratamento seja iniciado logo que a criança nasce – o que pode evitar uma série de problemas e, inclusive, a morte.

Durante a audiência, o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães Júnior, anunciou que o governo pretende incluir a deficiência de biotinidase e a hiperplasia adrenal congênita entre as doenças a serem diagnosticadas pelo teste do pezinho do SUS. Mas ele ressaltou que, “mais do que isso, o objetivo é garantir que a triagem neonatal, que já alcançou em todo o Brasil a fase 1 [na qual o teste busca detectar apenas a fenilcetonúria e o hipotireoidismo congênito], chegue no país inteiro às fases 2 e fase 3 [nas quais também se busca diagnosticar a presença da doença falciforme ou da fibrose cística], que só foram atingidas em alguns estados”.

De acordo com o secretário, cerca de 29,7 milhões de crianças foram examinadas pelo teste do pezinho entre 2001 e 2010.

Sobre a Hiperplasia Adrenal Congênita

A Hiperplasia causa a diminuição da produção de um hormônio essencial à vida, o cortisol ou cortisona, naturalmente produzido pelas glândulas adrenais. Os recém-nascidos com esta doença apresentam uma grave desidratação nas primeiras semanas de vida e sem tratamento específico a maioria deles evolui para choque e óbito. Para os que sobrevivem à crise, é frequente a ocorrência de déficits intelectuais, alterações neurológicas e, em casos extremos, até a paralisia cerebral. Junto com a falta da produção de cortisona, existe um desequilíbrio na produção de testosterona, o que resulta em malformações da genitália externa em recém-nascidos do sexo feminino. Esta malformação, que é passível de cirurgia corretiva e de vida normal, pode causar erros de identificação de sexo civil ao nascimento, cujo trauma psicológico para as pacientes e familiares é imensurável.

Triagem neonatal para a hiperplasia – Posicionamento da SBEM

No Brasil, esta triagem foi introduzida nos Estados de Goiás e de Santa Catarina, com verba dos próprios governos. Por meio de análises das publicações científicas de centros médicos de todo o Brasil concluiu-se que, por falta da existência da triagem para a Hiperplasia, muitos pacientes estão falecendo com crise de desidratação no primeiro mês de vida. Os médicos observaram também que os bebês de sexo masculino, pelo fato de não apresentarem a malformação genital, não chamam a atenção para o seu diagnóstico e possuem maior frequência de óbito em relação ao sexo feminino.
A efetividade da triagem da hiperplasia na redução da mortalidade é ratificada quando se analisa os resultados obtidos na triagem do Estado de Goiás, que já triou mais de 1 milhão de recém-nascidos. Observou-se que foi possível normalizar a frequência de diagnósticos de bebês do sexo masculino, evitando o desfecho fatal.

“A triagem neonatal permite a identificação precoce dos erros de registro de sexo ao nascimento nas meninas e o tratamento adequado lhes garantirá adequada qualidade de vida, inclusive com fertilidade normal. Vale à pena ressaltar que as medicações utilizadas possuem baixo custo e também que muitos dos estados brasileiros possuem centros de referência em tratamento para a Hiperplasia Adrenal Congênita”, explica Tania Bachega, médica endocrinologista da SBEM-SP.

Custos

O custo para o exame de triagem para a 21-hidroxilase não é elevado (é de aproximadamente R$ 5,00 por amostra). No entanto, segundo os especialistas, os gastos para um paciente com complicações decorrentes de diagnóstico tardio costumam ser muito elevados para o sistema público. “Jamais teremos condições de mensurar o trauma psicológico e a diminuição da qualidade de vida que esses pacientes e famílias sofrem”, complementa a endocrinologista.

Fonte: Blog da SBEM-SP<http://sbemsp.org.br/blog/?p=1179> (01/07/11)