Pesquisadores brasileiros produzem células-tronco não-embrionárias

28 de janeiro de 2009 - 13:34

Pesquisadores do INCA em conjunto com cientistas da UFRJ produziram, pela primeira vez no Brasil, uma linhagem de células-tronco induzidas, ou seja, criaram células com capacidade de se transformar em diversos tecidos a partir de células já diferenciadas. No caso brasileiro, o feito foi obtido a partir de células humanas do tecido renal e de fibroblastos de camundongos.

O Brasil é o primeiro país da América Latina e o quinto do mundo a dominar a técnica de induzir células diferenciadas (específicas de um determinado tecido) a regredirem em seu desenvolvimento, voltando ao estágio de célula-tronco. A metodologia utilizada foi a mesma dos cientistas japoneses (primeiros a obter
as chamadas células-tronco induzidas ou iPS, na sigla em inglês, há dois anos): introdução de uma cópia extra de quatro genes que precisam estar ativos nas células para ligar o mecanismo de reprogramação.

“Utilizamos a metodologia mais consagrada. Compramos os genes nos Estados Unidos e aqui construímos vírus artificiais para que eles levassem os genes para dentro das células. Os vírus artificiais não se replicam. A única função deles é fazer o transporte dos genes”, explica o biomédico Martin Bonamino, da Divisão de
Medicina Experimental da Coordenação de Pesquisa do INCA, que trabalhou em colaboração com o neurocientista Stevens Rehen do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.

Após 20 dias já era possível, para olhos treinados, como dos bolsistas envolvidos na pesquisa, Bruna Paulsen, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas da UFRJ, e Leonardo Chicayban, da Pós-Graduação em Oncologia do INCA, observar as células diferenciadas regredindo ao estágio de células-tronco. Para acelerar o processo foi acrescentado o aditivo ácido valpróico.

Nos próximos três meses os pesquisadores vão concluir a caracterização das células – descrever em quais tipos de tecidos essas linhagens de células-tronco induzidas podem se diferenciar, bem como o processo utilizado para obtê-las.

Bonamino explica que o grupo pretende aprimorar a metodologia, introduzindo os genes sem utilizar vetores que integrem o seu DNA ao das células ou até mesmo sem o uso de vetores. “É possível introduzir os genes através de uma descarga elétrica. Nós utilizamos, neste início, a metodologia dos vetores, pois ela é a mais certeira, até o momento”, explicou.

Já nos segundo semestre, os cientistas pretendem colocar a linhagem de células-tronco induzidas obtidas à disposição de outros pesquisadores. E, é claro, continuar com as pesquisas. O próximo passo deverá ser produzir linhagens de células-tronco induzidas a partir de células de pacientes com doenças neurológicas.

Fonte: site do INCA